segunda-feira, 25 de março de 2013

Pesquisa do Idec revela: a maioria dos chocolates nacionais tem baixo teor de cacau


Pouco cacau


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EM BUSCA DO TEOR DE CACAU

Partindo da premissa de que os fabricantes cumprem a norma da Anvisa e de que os chocolates avaliados têm, no mínimo, 25% de cacau em sua composição, o primeiro passo foi verificar o rótulo dos produtos. Missão difícil: entre os chocolates ao leite, apenas os da Cacau Show têm o percentual de cacau estampado na embalagem. As outras dez não fazem nenhuma menção à quantidade do fruto. “Seria muito importante que o teor de cacau viesse impresso no rótulo. Fica a sensação de que essa informação é uma estratégia de marketing, usada apenas quando isso é conveniente aos fabricantes”, opina Ana Paula Bortoletto Martins, nutricionista do Idec.

Ainda não existe nenhuma lei que obrigue as empresas a colocarem esse dado na embalagem, mas, para o Instituto, seria razoável que essa iniciativa partisse dos próprios fabricantes.

O teor de cacau também não é estampado nas embalagens de muitos chocolates meio amargo e amargo. Dos oito chocolates meio amargo pesquisados, apenas três têm a preciosa informação indicada no rótulo: Cacau Show, Hersheys e Arcor. E entre os onze de chocolate amargo, dois não têm o dado: os tabletes de 40 e 85 g da Kopenhagen, e os tabletes de 20 e 100 g da Brasil Cacau (marcas que pertencem ao mesmo grupo).

O Idec foi então atrás do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) das empresas que não divulgam o teor de cacau na embalagem. Mais uma missão inglória. Apenas o Carrefour e o Dia revelaram os dados pedidos. Nas outras, ou o atendente disse que não dispunha da informação, ou que retornaria o contato posteriormente (o que acabou não sendo feito). Ou, pior, afirmou que esse dado é “segredo de fábrica”. O Idec considera que saber o teor de cacau de um produto que, oras, é feito de cacau não é um pedido de outro mundo. É uma informação básica, essencial e útil para quem está preocupado com o sabor e com a qualidade do produto que consome. E nunca é demais lembrar: o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 6o, prevê que é direito básico do consumidor “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição (...)”. Essas empresas que usaram o argumento do “segredo de fábrica”, depois de alguma insistência do pesquisador, acabaram citando a norma da Anvisa. Afirmaram, assim, que seus produtos seguem a legislação e que têm, portanto, ao menos 25% de cacau.

A tentativa final para se conseguir o áureo teor de cacau foi contatar as assessorias de imprensa das empresas. Mesmo assim, Arcor, Garoto, Kraft e Nestlé não divulgaram integralmente os dados.

O teor de cacau também foi questionado nos pontos de venda em que havia vendedores ou balconistas para orientar a compra (caso das marcas Kopenhagen, Brasil Cacau e Cacau Show). Mas, de modo geral, eles reagiram com surpresa à pergunta e ninguém soube responder com convicção. O destaque curioso foi a declaração de um funcionário da Kopenhagen, segundo a qual o chocolate ao leite da marca era “puro” e, portanto, teria 100% de cacau. Outra informação “estranha” foi passada pelo SAC da Brasil Cacau: o chocolate ao leite da marca teria 13% de cacau – abaixo do mínimo exigido por lei. Posteriormente, a assessoria de imprensa da empresa retificou a informação: 35,76%.



NORMA POUCO RIGOROSA

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O teor de cacau mínimo (25%) estipulado pela Anvisa já foi maior.

Uma Resolução da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), de 1978 (revogada em 2005), estabelecia que o “piso” de cacau deveria ser de 32% para qualquer tipo de chocolate. Especula-se que essa redução tenha ocorrido por pressão dos fabricantes. Há que se considerar também que o volume de cacau produzido no Brasil despencou devido à chamada “vassoura de bruxa”, um fungo que ataca os cacaueiros.

A norma atual contém ainda outro retrocesso: a inexistência de um limite para a adição de “gorduras equivalentes” (gorduras com propriedades físicas e químicas muito parecidas com as da manteiga de cacau, mas que não são de cacau). A norma anterior proibia qualquer adição de “gordura e óleos estranhos” ao chocolate. “Foi uma mudança brutal de legislação, o que certamente fez com que a qualidade do nosso chocolate caísse”, afirma Priscilla Efraim, professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade de Campinas (Unicamp) e especialista em cacau. Ela aponta outro problema: “Não existem métodos analíticos para aferir se o teor mínimo é respeitado, principalmente porque quase todas as empresas usam essas gorduras parecidas com as do cacau. Assim, só nos resta acreditar que ao menos os 25% são respeitados”, ela diz.

A Anvisa alega que a legislação atual está fundamentada em um documento do Codex Alimentarius, fórum internacional de normatização do comércio de alimentos estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse documento há, realmente, menção a um teor de cacau mínimo de 25%. No entanto, esse percentual é válido apenas para chocolates ao leite. Se a denominação do produto for apenas “chocolate”, o teor mínimo recomendado aumenta para 35%.

Procuramos a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), mas ela não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Fonte: http://www.idec.org.br/em-acao/revista/qual-e-mais-barato/materia/pouco-cacau/pagina/403

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